Entrevista com Jim Kay à Bloomsbury é Traduzida e divulgada pelo site da Rocco!



Poucos dias depois de ser lançado a notícia dos livros em versão ilustrada a Editora Bloomsbury divulgou a entrevista com o ilustrador Jim Kay, que foi divulgada pela Rocco devidamente traduzida, acompanhe clicando em ler mais.


 “Isso é magia, que a massa cinzenta na cabeça de alguém inspire outros a ler, brincar e ter ideias próprias.” Ilustrador responsável pela aguardada edição ilustrada de Harry Potter e a pedra filosofal, que será lançada pela Rocco em 2016, o britânico Jim Kay conta em entrevista* como recebeu a notícia de que trabalharia com a série de livros, qual é o seu personagem favorito e como está encarando o desafio.

 Como se sentiu quando soube que ilustraria os romances Harry Potter?

Dizem os cientistas que depois do Big Bang virá o Big Crunch, e eu sinto ter vivido esta teoria em primeira mão, porque ouvir a notícia de que eu conseguira o trabalho foi uma explosão de prazer, seguida de imediato pela implosão de um pavor de paralisar o cérebro. De minha perspectiva, sem dúvida é o melhor trabalho que alguém pode receber — sou meio maníaco por controle e, assim, ter a oportunidade de desenhar os personagens, as roupas, a arquitetura e as paisagens daquele que deve ser o mais amplo mundo da fantasia da literatura infantil, bom, digamos que estou extremamente animado com isso. Porém, também estou consciente da enorme responsabilidade que isto representa e só quero ter certeza de que farei o melhor trabalho possível. 

Há algum personagem ou cena específica que você esteja ansioso para ilustrar?

É como tentar escolher o objeto mais brilhante da Caverna de Aladim; você pega um tesouro e outra pedra preciosa chama sua atenção. No momento, nem mesmo consigo decidir por uma criatura preferida (talvez um Testrálio, ou um Tronquilho, mas os duendes são criaturas maravilhosas e imagine que também há os trolls — dá para ver meu problema!). Tem sido ótimo pensar na criação dos personagens, mas no momento minha tarefa preferida é criar Hogwarts — é a primeira vez que penso em construir algo sustentado pela magia… É mais difícil do que se pode pensar. 

Como artista, como você aborda uma tarefa tão grande? Por onde começa, com um leque tão amplo de possibilidades? 

Parece evidente, mas começamos pelo texto. A história é tudo, assim quero fazer o possível para verdadeiramente mostrar a profundidade das histórias de Rowling, ao máximo. Deste modo, é questão de pesquisa, muita pesquisa. Os livros me fazem olhar as pessoas de um jeito diferente, estou sempre vendo as multidões à procura de rostos interessantes. Para um ilustrador, não existe uma pessoa feia ou de aparência estranha — todas são interessantes. Para minha sorte, Kettering é lar de algumas pessoas muito interessantes. Os museus e bibliotecas são meus lugares favoritos de inspiração. A gente vê alguma coisa, pode ser um calçado medieval, um relógio antigo ou um macaco empalhado, e de imediato tem ideias sobre os personagens da história, as coisas que eles fariam, como eles andam. O que descobri ser espinhoso é meu hábito irritante de controlar os elementos mais fantásticos de meus desenhos quando trabalho neles, levo algum tempo para entender que eu posso ficar meio louco nesta tarefa. Acima de minha mesa, as palavras “É Fantasia, Idiota” são um lembrete diário de que preciso me divertir um pouco. 

Você é fã de Harry Potter? Se for, quais são suas primeiras lembranças da leitura dos livros?

 Sou fã de Harry Potter, embora, para falar com franqueza, eu tenha chegado à festa com certo atraso. Na realidade, ouvi o maravilhoso audiolivro de Stephen Fry da Pedra filosofal antes de ler o livro, de início porque eu ficava sentado no metrô lotado de crianças que falavam muito empolgadas de Harry Potter. Foram as recordações de começar numa nova escola que tiveram influência em mim (nós nos mudamos quando eu era mais novo e tive de começar em uma escola grande, onde não conhecia ninguém). Quando adulto, eu tinha me esquecido de como a escola é difícil. E tudo me voltou — em particular quando li A ordem da Fênix: o pavor das provas! É incrível pensar que tudo no mundo de Potter, as ruas, as lojas, as criaturas, os personagens, todas aquelas coisas maravilhosas saíram do cérebro de uma só pessoa. Para mim, isso é magia, que a massa cinzenta na cabeça de alguém inspire outros a ler, brincar e ter ideias próprias. É como um feitiço que salta de uma pessoa para outra, reformulando-se neste processo. Quero manter este feitiço em ação, talvez acrescentando minhas próprias interpretações, se possível. Espero que com o passar dos anos vejamos muitos ilustradores diferentes tendo a sua chance, como Alice no País das Maravilhasinspirou artistas por mais de um século. 
 Quem é seu personagem favorito no universo de Harry Potter? 

Isto é como tentar escolher seu disco preferido, muda o tempo todo. Tenho um fraco por Neville, em particular devido a sua inépcia, mas é preciso admirar Hermione, porque ela se empenha na biblioteca, ela é o cimento que a tudo une, bom, seria uma história diferente. Quero saber mais sobre Snape, há muita profundidade ali. Visualmente, porém, tem de ser Hagrid; ele tem um coração maravilhoso, metido em um corpo imenso e desgastado. A cabana de Hagrid, para mim, é uma extensão de seu corpo: torna-o parte de Hogwarts, mas também o mantém a distância. 

Quais eram seus livros preferidos quando criança?

Lembro-me de me sentar na cama, com um exemplar da série Adventure, de Willard Price, nas mãos e no colo um livro colossal de dados como The Encyclopaedia of Natural History. Veja bem, os livros de Willard eram histórias maravilhosas sobre dois irmãos que se metem em toda sorte de problemas na busca por animais exóticos e raros em lugares remotos. Então, eu lia suas aventuras, depois aprendia o que pudesse sobre os animais que eles encontravam. Aqueles textos enciclopédicos eram tão pesados que eu não conseguia sentir os pés depois de alguns capítulos, mas eu estava no paraíso dos nerds. 

Quem são seus ilustradores favoritos (clássicos ou modernos)? 

Nossa, são tantos, Eric Ravilious por suas pinturas, Edmund Dulac pela cor extraordinária, creio que Alexis Deacon é um desenhista deslumbrante, possivelmente o ilustrador mais talentoso do mundo, e também adoro o trabalho de Ian Miller, que produz ilustrações incríveis de castelos, cavaleiros, duendes e orcs. Adoraria ver sua versão de Harry Potter; imagino que a criança teria de ser corajosa para entrar na Hogwarts de Miller. 

Como você descreveria o estilo de sua arte? 

Tendo a mudar meu estilo para combinar com a história, o que dificulta muito a minha vida, mas é bom se punir constantemente. Se algo não é nem um pouco assustador, provavelmente não vale ser feito. Ainda estou aprendendo ilustração, ainda me sinto novo nisto (este será meu terceiro livro) e espero jamais deixar de aprender, porque existem muitas coisas que quero experimentar — sinto que ainda nem arranhei a superfície. 

Que dicas você daria aos jovens que querem ser artistas/ilustradores?

 Conheci muitas crianças que dizem não saber desenhar nem pintar muito bem, e acredito que a vida de artista ou de desenhista está interditada a elas. É trágico, porque elas costumam ter ideias incríveis e acho que as ideias são o bem mais valioso de uma pessoa na área de criação. Desenhar e pintar são um pouco parecidos com tocar violão; se você pratica bastante, melhorará com o tempo; assim, não se preocupe com essa questão, concentre-se apenas em retratar suas ideias, porque é o que o torna diferente de todos os outros. E não se esqueça, se você tem uma ótima ideia, ela brilhará pelo desenho mais rudimentar, da mesma forma que uma ótima música pode precisar de apenas três acordes num violão para ganhar vida. 

Você tem uma rotina diária quando faz suas ilustrações? 

Bom, não tem nada de extraordinário: acordo, passeio com o cachorro, desenho o dia todo e a noite toda, jogo o trabalho de todos os dias na lixeira e vou dormir torcendo para o dia seguinte ser um daqueles em que algo fica fora dela. No momento, a lixeira está ganhando por três a zero, espero que amanhã eu marque uns dois gols. 

Entrevista concedida à editora britânica Bloomsbury. E Traduzida pela Editora Brasileira Rocco;

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